Os olhos voltaram a sorrir

Sempre foi uma pessoa alegre. Brincava com todos e fazia o possível para quebrar climas ruins. Era uma pessoa impossível de não se gostar. Tentava não deixar que seus problemas pessoais impedissem de fazer o que sempre fez: animar os outros. E quando os outros estavam choravam, estava lá para consolar, por mais que quisesse chorar junto por outra razão qualquer. 
Com o passar do tempo, seus esforços para esquecer seus problemas foram hercúleos, cada dia parecia mais difícil, mas as pessoas pareciam não perceber qualquer diferença, ainda conseguia controlar-se. Talvez se controlasse bem demais, seu espírito parecia cansado, queria chorar, gritar, fazer com que o mundo visse que sofria. Ah, como queria. Mas não poderia deixar a peteca cair, os outros nada poderiam fazer, se preocupariam à toa e chorar não resolveria nada. Tentava sorrir.
Vez por outra fraquejava: resmungava. Resmungava porque, no fim das contas, ainda não queria chorar, queria apenas dar uma pista de que as coisas não estavam bem. Falava de modo natural, na esperança de que a pessoa lesse lá no fundo e visse que não estava tão normal assim. Não parecia dar certo. Ninguém lia nada na sua alma, não pareciam sentir seu desânimo. Talvez seu negócio fosse mesmo sorrir. É, devia sorrir, por mais que parecesse difícil.
Já não aguentava a própria companhia. Não compreendia como ninguém percebia nada. Se sentia em pedaços, mas ninguém parecia ver. Mas, e se vissem? Se viessem lhe consolar, aceitaria? Sabia que não. Seu papel era ser forte, não se mostrar fraco. Não podia ser. Mas e então, o que esperar? O que traria o dia de amanhã? Se sentia arrastar dia a dia, não sabia mais o que esperar. Chorava com os olhos secos.
Mas, quem diria, o tempo pareceu encurtar. Os problemas continuaram, afinal não poderia fazer nada por eles, porém agora a balança equilibrara, sabia a razão de esperar o dia seguinte, e aguardava com ânimo. Redescobrira o que era ter a alma leve ou sorrir sem razão aparente. Ninguém poderia dizer que algo tão simples lhe alegrasse tanto, mas alegrava. Era bom ter o que pensar, era bom ter pelo que esperar. Os dias voavam, os olhos sorriam.

2 comentários:

Pandora disse...

Eu me identifico pelo contrario com esse texto! Eu me tornei uma pessoa brincalhona, eu tento ser apoio, ser força e coragem para as outras pessoas, afinal sou a mais velha e tenho responsabilidades... Mas no fundo sou uma resmungona, chata que precisa de apoio senão cai, que chorar de olhos cheios rsrs...

A parte isso, seja como for eu adoro começar a semana com algum incentivo já que odeio segundas e as segundas me odeio em resposta e esse texto tá lindo é como ver alguém olhando o sol nascer na praia depois de uma tempestade, existe uma bagunça, mas tb uma grande esperança no ar...

Os problemas continuaram, afinal não poderia fazer nada por eles, porém agora a balança equilibrara, sabia a razão de esperar o dia seguinte, e aguardava com ânimo. Redescobrira o que era ter a alma leve ou sorrir sem razão aparente.

Nina disse...

Que bom que ela voltou a sorrir...
eu acho que tbm sou como a Pandora aqui em cima, eu to do avesso agora :-) acho que é a idade, a gente ve que no fundo, é melhor levar a vida mais leve mesmo :-)
Bjs Ana